LAE Destinos: A Guerra da Salsicha, na Alemanha

LAE Destinos: A Guerra da Salsicha, na Alemanha

 

Por Lúcia Collischonn de Abreu, ex-consultora da LAE

 

A Alemanha é famosa pela batata, pelo chucrute, pela cerveja e pelo futebol (é cedo ainda para mexer na ferida do 7 a 1?), mas um dos orgulhos da nação é, pasmem, um tipo de salsicha.

 

 

O caso da Currywurst é o típico exemplo de um orgulho bairrista ou nacional que qualquer um que não pertença àquela cultura acha difícil de compreender. Afinal, o que tem de tão interessante em uma iguaria que consiste basicamente de uma salsicha, ketchup e um pouco de curry? Se a resposta que veio à mente foi um simples “nada”, você está certo. Veja bem, em minhas andanças pela terra dos bárbaros germanos já provei muito os diversos pratos típicos de lá, e posso me considerar especialista na salsicha alemã, mas nunca entendi todo esse amor por um prato que aqui no Brasil precisaria de muitos outros ingredientes para se tornar minimamente interessante.

 

Mas esse não é um texto sobre meu gosto pessoal por salsichas. Esse é um texto sobre a guerra alemã das salsichas, a famosa rixa, o grande cisma da Alemanha, a querela dos embutidos, certamente o catalisador para a terceira guerra mundial: a guerra da Currywurst.

 

O que é, afinal, a Currywurst? Em seu nome, podemos ver a famosa mania alemã de aglutinar palavras (responsável por aberrações  como Rindfleischetikettierungsüberwachungsaufgabenübertragungsgesetz) unindo a palavra Curry que, em português, significa isso aí mesmo, curry, e Wurst, -que significa salsicha. Então, basicamente, salsicha com ou de curry. Vejam bem, nem o nome é interessante.

 

 

A receita foi criada em 1949 pela heroína nacional Herta Heuwer que, na Alemanha ocupada do pós guerra, fez uma social com soldados ingleses e assim conseguiu molho inglês e pó de curry, que resolveu unir às já tradicionais salsichas de porco assadas, obtendo, por fim, a Currywurst, que viria a se tornar tanto uma comida de rua quanto uma refeição da família tradicional alemã. Na Alemanha, por experiência própria, eu comi Currywurst na rua, no trem, na floresta, em um casamento e em uma ceia de natal. Para todas as ocasiões, mas não para todos os gostos.

 

 

A guerra da Currywurst, entretanto, se originou na disputa entre as cidades de Berlim e Hamburgo pelo título de melhor Currywurst da Alemanha. Além disso, a origem do prato também é motivo para debate. Alguns historiadores hamburguenses especializados em salsicha, por exemplo, argumentam que a receita foi criada no coração de Hamburgo. O autor Uwe Timm, por exemplo, publicou o romance A Descoberta da Currywurst, no qual o esqueleto do enredo se sustenta na teoria de que a Currywurst foi criada em Hamburgo. O livro foi adaptado para o cinema, e o filme homônimo estreou em 2008, documentando um pouco desse sangrento conflito. O autor do livro põe mais lenha na fogueira, afirmando ter comido a famosa iguaria em 1947 em Hamburgo, dois anos antes da suposta data de nascimento do prato. Mas a pergunta que fica, afinal, é por que diabos uma cidade chamada HAMBURGO, que é comprovadamente o berço do famoso HAMBÚRGUER, quer brigar pela criação de uma salsicha? Cada um com suas prioridades.

 

 

Uma nação dividida, cidades destruídas, vidas em risco, sem esperança. Nada disso aconteceu como consequência da Guerra da Currywurst. O conflito só é lembrado em ocasionais discussões em mesas de bar, testes de conhecimentos gerais e entre hamburguenses e berlinenses. A verdade é que ninguém se importa.

 

O acontecimento que pôs fim ao conflito de uma vez por todas foi a inauguração do Deutsches Currywurst Museum, o museu oficial da Currywurst, em Berlim, no ano de 2009. Ali os visitantes podem provar diversas receitas, e descobrir muitas informações INTERESSANTÍSSIMAS sobre a famosa salsicha. Além disso, podem aprender sobre a história oficial da Currywurst. A cada ano, o museu recebe cerca de 350 mil visitantes. Estima-se que mais de 800 milhões de Currywursts sejam consumidas anualmente na Alemanha.  

 

E aí, deu vontade de provar?

 

 

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